Pantocrator azul
(Traduzido por Jandira Soares Pimentel - de edição autêntica, encontrada na Internet)
Vejam como tem tudo a ver com o livro "A Nuvem do Não-Saber" e com a prática da Oração Centrante.
A melhor regra para uma vida santa - Conversas e Cartas do Irmão Lawrence.
Data provável da primeira publicação: entre 1670 e 1700.
O bem quando Ele concede, sumamente bom; não mais quando Ele
nega:
Aflições, de Sua mão soberana, são bençãos
disfarçadas.
Prefácio - Creio na .... comunhão dos santos.
Certamente se fosse necessária prova adicional dessa realidade, esta
seria encontrada na unidade universal do Cristianismo experimental em todas
as idades e todas a terras. As experiências de Thomas à Kempis,
de Tauler e Madame Guyon, de John Woolman e Hester Ann Rogers, se combinam
maravilhosamente e se harmonizam perfeitamente. E Nicholas Herman, de Lorraine,
cujas cartas e conversas são dadas aqui, testificam a mesma verdade.
Em comunhão com Roma, um irmão leigo entre Carmelitas, por muitos
anos um soldado, numa era irreligiosa, entre pessoas céticas, onde
nele a prática da presença de DEUS foi tanto uma realidade quanto
a guarda dos primeiros Companheiros e a semente sagrada
nele e em outros foram o rebanho (Is 6,16) do qual cresceram os
lares e a piedade evangélica do século dezoito, de Epworth e
de Moorfields. Quando despojadas, estão adornadas ao máximo
é a linha que desencoraja quaisquer interpolações ou
interpretações, além dos poucos conteúdos dos
cabeçalhos que são oferecidos. Que o Cristo em você
seja a esperança da glória para todos os que lêem.
CONVERSAÇÕES
PRIMEIRA CONVERSAÇÃO
Conversão e emprego precioso. Satisfação na presença
de Deus. Fidelidade ao nosso dever. Resignação, o fruto da vigilância.
A primeira vez que vi o Irmão Lawrence foi em três de agosto,
1666. Ele me disse que DEUS lhe concedera um favor singular, em sua conversão
na idade de dezoito anos. Que no inverno, olhando uma árvore despojada
de suas folhas e considerando que dentro de pouco tempo suas folhas seriam
renovadas, e depois disso as flores e frutos apareceriam, ele recebeu uma
grande visão da Providência e Poder de Deus, que nunca se apagou
de sua alma. Que esta visão como que acendeu nele um amor tão
grande por DEUS, que ele não podia diferenciar se esse amor aumentou
nos mais de quarenta anos que ele ainda viveu. Que ele havia sido lacaio de
M. Fieubert, o tesoureiro, e que ele era um sujeito grande e desajeitado,
que tudo quebrava. Que ele muito desejara ter sido admitido num mosteiro,
pensando que lá ele conseguiria melhorar sua falta de jeito e (diminuir)
as faltas que ele cometeria, e então ele deveria sacrificar a DEUS
sua vida, com seus prazeres: mas que DEUS o havia desapontado, já que
ele apenas encontrou satisfação nesse estado. Que nós
deveríamos nos estabelecer num sentido da Presença de Deus,
continuamente conversando com Ele. Que isto era uma coisa vergonhosa, interromper
essa conversação para pensar em ninharias e tolices. Que devemos
alimentar e nutrir nossas almas com altas noções de DEUS; que
produziria em nós grande alegria o sermos devotados a Ele. Que devemos
acelerar e animar nossa fé. Que é lamentável que tenhamos
tão pouca; e que ao invés de tomar a fé como regra de
conduta, os homens se divertem a si mesmos com devoções triviais,
que mudam diariamente. Que o caminho da Fé era o espírito da
Igreja e isto era suficiente para nos levar a um alto grau de perfeição.
Que devemos nos oferecer totalmente a Deus, com respeito tanto às coisas
temporais quanto espirituais, e procurar nossa satisfação apenas
em fazer Sua vontade, onde quer que Ele nos conduza, por sofrimento ou consolação,
pois tudo deveria ser igual para uma alma verdadeiramente resignada. Que a
fidelidade é necessária nestas securas ou desolações
e aborrecimento na oração, pelas quais DEUS testa nosso amor
por Ele; que então era o tempo para fazermos bons e efetivos atos de
resignação, onde se pode muitas vezes aperfeiçoar nosso
progresso espiritual. Que em relação às misérias
e pecados das quais ele ouvia diariamente no mundo, ele estava longe de se
admirar delas e que, ao contrário, ele estava surpreso que não
houvesse mais, considerando a malícia de que eram capazes os pecadores:
que por sua parte, ele rezava por eles; mas sabendo que DEUS podia remediar
os malfeitos que eles cometiam, quando Ele desejasse, ele não se dava
a mais nenhuma preocupação. Que para chegar a uma tal resignação
como DEUS deseja, devemos vigiar atentamente todas as paixões que se
misturam, tanto nas coisas espirituais como nas de natureza mais grosseira:
que DEUS dá a luz concernente a essas paixões àqueles
que verdadeiramente desejam servi-Lo. Que se este fosse meu projeto, isto
é, sinceramente servir a DEUS, eu poderia vir a ele (Irmão Lawrence),
quando desejasse, sem nenhum medo de ser algum incômodo; mas se não,
eu não o deveria visitar mais.
SEGUNDA CONVERSAÇÃO
O Amor, a razão de tudo. Antes no medo, agora na alegria. Diligência
e amor. Simplicidade, a chave para a ajuda divina. Negócios tanto fora
quanto dentro de casa. Tempos de oração e auto-mortificação
não são essenciais para a Prática. Todos os escrúpulos
trazidos a Deus. Que Ele sempre governou tudo por amor, sem visões
mesquinhas; e que tendo resolvido fazer do amor de Deus a finalidade de todos
os seus atos, ele encontrou motivos para estar satisfeito com seu método.
Que ele ficava feliz quando podia pegar uma palhinha no chão por amor
de Deus, procurando-O somente, e nada mais, nem mesmo seus dons. Que ele ficou
muito confuso por um bom tempo, pensando que estava condenado; e que todos
os homens do mundo não o poderiam convencer do contrário; porém
tendo o mesmo raciocinado consigo mesmo sobre isso: ingressei na vida
religiosa apenas por amor a Deus e tenho tentado agir apenas por Ele; o que
quer que me aconteça, quer eu seja salvo ou me perca, vou sempre continuar
a agir puramente por amor de Deus. Terei pelo menos esse bem, que até
a morte eu terei feito tudo que estiver em mim por amor dEle. Que essa
confusão mental durou quatro anos; e que durante esse tempo ele sofreu
muito.
Que após esse tempo ele viveu sua vida em perfeita liberdade e contínua
alegria. Que ele colocou seus pecados entre ele e Deus, como para dizer a
Ele que não merecia Seus favores, mas que Deus continuava a dar-lhe
em abundância. Que de modo a formar o hábito de conversar com
Deus continuamente, e oferecendo tudo que fazemos a Ele; primeiro devemos
nos dedicar a Ele com algum esforço, mas depois de poucos cuidados
devemos notar seu amor dentro de nós nos levar a isso sem grande dificuldade.
Que ele esperava, depois de dias felizes que Deus lhe deu, receber sua quota
de dor e sofrimento; mas que ele não se preocupou com isso, sabendo
muito bem que ele não poderia fazer nada por si mesmo, Deus não
falharia em dar-lhe forças para suportá-los. Que quando se apresentou
uma ocasião de praticar alguma virtude, ele se dirigiu a Deus, dizendo-Lhe,
Senhor, não posso fazer isso a menos que me capaciteis;
e que em seguida ele recebeu forças mais do que suficiente. Que quando
ele falhou em seus deveres, ele apenas confessou sua culpa, dizendo a Deus,
nunca farei diferente, se Vós me deixais por minha conta; Vós
deveis esconder minhas quedas e emendar o que está errado. Que
após isso, não se permitiu mais nenhum desconforto sobre isso.
Que devemos agir com Deus com a maior simplicidade, falando com Ele franca
e claramente e implorando Sua assistência em nossos negócios,
como eles acontecem. Que Deus nunca deixou de conceder-lhe isso, como ele
experimentava com frequência.
Que ele mais tarde ele foi enviado a Burgundy, para compra as provisões
de vinho para a comunidade, que se tornou uma tarefa indesejada para ele,
já que ele não tinha nenhum tino para negócios e por
que ele era aleijado, e não podia se locomover no barco a nao ser rolando
sobre os tonéis. Que contudo não se preocupou com isso, nem
com a compra do vinho. Que ele disse a Deus, era do Seu negócio que
ele estava cuidando e que depois disso viu que tudo se realizou a contento.
Que ele foi enviado a Auvergne um ano antes para a mesma incumbência;
que ele não poderia contar como tudo se passou, mas provou que se saiu
bem. Então, da mesma maneira, em seus negócios na cozinha (a
que ele tinha naturalmente grande aversão), tendo se acostumado a fazer
tudo ali por amor de Deus, e com orações em todas as ocasiões,
por Sua graça para fazer tudo bem, ele sempre achou tudo fácil,
durante os quinze anos que lá ficou trabalhando. Que ele estava muito
feliz com o posto que ocupava agora; mas que estava pronto a deixá-lo,
tanto quanto ao primeiro, já que ele estava sempre feliz em todas as
situações, fazendo pequenas coisas por amor de Deus.
Que para ele, os tempos fixados para oração não eram
diferentes dos outros tempos: que ele se aposentou para orar, conforme as
ordens de seu superior, mas que ele não desejava tal aposentadoria,
nem pediu isso, porque seu maior trabalho não o afastava de Deus.
Que ele sabia de sua obrigação de Amar a Deus em todas as coisas,
e como tinha se proposto a fazer isso, ele não precisava de um diretor
que lhe aconselhasse isso; mas que ele precisava muito de um confessor que
o absolvesse. Que ele era muito sensível às suas faltas mas
não desencorajado por eles; que ele as confessava a Deus e não
Lhe pedia que o desculpasse deles. Quando ele fazia assim, ele terminava sua
prática usual de amor e adoração, em paz.
Que em sua perturbação mental, ele não consultou ninguém,
mas sabendo pela luz da fé que Deus estava presente, ele se contentava
em dirigir todas as suas ações a Deus, i.e., fazendo-as com
um desejo de agradá-Lo, seja lá o que decorresse disso.
Que pensamentos inúteis estragam tudo: que o engano começa aí;
mas que devemos rejeitá-los, tão logo percebamos sua impertinência
ao assunto em questão, ou nossa salvação; e retornamos
à nossa comunhão com Deus.
Que no começo ele sempre passava parte do tempo estabelecido para a
oração, rejeitando pensamentos errantes e caindo de novo neles.
Que ele nunca pode controlar sua devoção por certos métodos
como alguns fazem. Que apesar disso, no início, ele meditou por algum
tempo, mas depois ele parou, de uma maneira que não poderia dizer como.
Que todas as mortificações e outros exercícios são
inúteis, mas servem para levar à união com Deus pelo
amor; que ele considerou bem isto e descobriu que o caminho mais rápido
para ir direto a Ele é pelo contínuo exercício do Amor,
fazendo tudo por amor dEle.
Que devemos fazer uma grande diferença entre os atos da compreensão
e aqueles da vontade; que os primeiros são comparativamente de pouco
valor e os outros, tudo. Que nosso único negócio é amar
e nos deliciar em Deus.
Que todos os tipos possíveis de mortificação, se estiverem
vazios do amor de Deus, não podem apagar um único pecado. Que
devemos, sem ansiedade, esperar o perdão de todos nossos pecados pelo
Sangue de Jesus Cristo, apenas nos esforçando para amá-Lo de
todo nosso coração. Que Deus parece ter concedido seus maiores
favores aos maiores pecadores, como um sinal monumental de Sua misericórdia.
Que as maiores penas ou os prazeres deste mundo não se comparam com
o que ele experimentou nos dois tipos de estado espiritual: de modo que ele
não tinha preocupação com nada nem tinha medo de nada,
desejando apenas Deus, e que ele não O ofendesse.
Que ele nao tinha escrúpulos; pois, disse ele, quando eu falho
em meu dever, eu prontamente reconheço isso, dizendo: estou acostumado
a fazer isso; nunca farei de outro modo se contar comigo mesmo. Se eu não
cair, então, dou graças a Deus, reconhecendo que toda a força
vem Dele.
TERCEIRA CONVERSAÇÃO
Ele me contou que a base da sua vida espiritual estava numa alta noção
e estima de Deus através da fé; que quando ele finalmente compreendeu
bem, não teve outro cuidado a princípio, além daquele
de rejeitar prontamente qualquer outro pensamento, que ele pudesse realizar
todas suas tarefas por amor a Deus. Que quando algumas vezes ele não
pensava em Deus por algum bom tempo, ele não se inquietava por isto;
mas, depois de reconhecer sua miséria diante de Deus, ele retornava
a Ele com tanto mais confiança nEle tanto quanto tinha se reconhecido
miserável ao esquecê-Lo.
Que a confiança que colocamos em Deus O honra muito e atrai para nós
grandes graças.
Que era impossível não apenas que Deus decepcionasse, mas também
que Ele deixasse por muito tempo uma alma sofrendo perfeitamente resignada
a Ele e resolvida a suportar tudo por Seu Amor.
Que ele frequentemente experimentara a prontidão do socorro da divina
graça em todas as ocasiões e da mesma experiência, quando
ele tinha negócios a resolver, ele não pensava nisso antecipadamente,
mas quando era hora de agir, ele encontrava em Deus, como num espelho límpido,
tudo o que era apropriado a ele fazer. Que ultimamente ele tinha agido assim,
sem antecipar cuidados; mas antes da experiência acima mencionada, ele
usou isto em seus negócios.
Quando negócios externos o distraiam do pensamento de Deus, uma lembrança
fresca, vinda de Deus investia em sua alma e tão o inflamava e o transportava
que lhe era custoso conter-se.
Que ele estava mais unido a Deus em seus afazeres externos do que quando ele
os deixava para a devoção e a solidão.
Que ele a partir de então experava muita dor de corpo e alma; que o
pior que pôde lhe acontecer foi perder o senso de Deus que ele desfrutou
por tanto tempo; mas que a bondade de Deus lhe assegurou que Ele não
o abandonaria completamente, e que Ele lhe daria força para suportar
qualquer mal que Ele permitisse acontecer a ele; e que por conseguinte ele
não teve medo de nada; e que não teve ocasião de se consultar
com ninguém sobre esse estado. E quando ele tentou fazer isto, ele
ficou mais perplexo; e que ele estava consciente de sua prontidão para
entregar sua vida por amor de Deus, que ele não tinha apreensões
quanto a perigos. Que a perfeita resignação a Deus era um modo
certo de ir ao céu, um modo pelo qual ele teve sempre suficiente luz
para sua conduta.
Que no início da vida espirital devemos ser fiéis em cumprir
o nosso dever e nos negarmos a nós mesmos; mas depois disso, alegrias
inexprimíveis seguem. Que nas dificuldades devemos sempre recorrer
a Jesus Cristo, e pedir Sua graça; com isso tudo se torna fácil.
Que muitos não avançam no progresso cristão porque se
agarram a penitências e exercícios particulares, enquanto negligenciam
o amor de Deus, que é o fim. Que isso aparecia claramente
em seus trabalhos e essa era a razão pela qual vemos tão pouca
virtude sólida.
Que não era necessário nem a arte nem a ciência para ir
a Deus, mas apenas um coração resolutamente determinado a aplicar-se
a nada além de Deus, por Ele mesmo e amar a Ele apenas.
QUARTA CONVERSAÇÃO
Ele discursava comigo frequentemente, com grande abertura de coração,
a respeito de sua maneira de ir a Deus, onde alguma parte já foi relatada.
Ele me disse que tudo consiste em uma renúncia total de tudo que sentimos
que não leva a Deus. Que devemos nos acostumar a nós mesmos
a uma contínua conversação com Ele, com liberdade e simplicidade.
Que precisamos apenas reconhecer a Deus intimamente presente em nós,
de falar com Ele a todo momento, que devemos pedir Sua assistência para
conhecer Sua vontade nas coisas duvidosas, e para retamente realizar aquelas
que vemos que Ele espera de nós, oferecendo-as a Ele antes que as realizemos
e dando a Ele graças quando terminarmos.
Que nessa conversação com Deus estamos também ocupados
em louvar, adorar, e amar a Ele, incessantemente, por Sua infinita bondade
e perfeição.
Que sem nos desencojarmos por causa de nossos pecados, devemos rezar pela
Sua graça com perfeita confiança, confiando nos infinitos méritos
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que Deus nunca falhou em oferecer Sua graça
em cada ação; que ele claramente percebeu isso e nunca falhou
nisso, a não ser quando seus pensamentos vagavam fora do sentido da
presença de Deus, ou quando ele esquecia de pedir Seu auxílio.
Que Deus sempre nos dá a luz em nossas dúvidas, quando não
temos nenhum outro projeto a não ser agradá-Lo. Que nossa santificação
não depende de mudar nossos trabalhos, mas em fazê-los por amor
de Deus, o que em geral fazemos por nosso amor. Que era lamentável
ver quantas pessoas trocam os meios pelo fim, viciando-se a fazer certos trabalhos,
que eles realizam muito perfeitamente, por razões de seus humanos interesses.
Que o meio mais excelente que ele encontrou de ir a Deus era fazer nossos
trabalhos ordinários sem nenhum propósito de agradar aos homens
(Gal, 1,10, Ef, 6,5 e 6) e (tanto quanto formos capazes) puramente pelo amor
de Deus.
Que era grande ilusão pensar que os momentos de oração
devem ser diferentes de outros momentos; que somos estritamente obrigados
a aderir a Deus pela ação no tempo da ação, tanto
quanto pela oração no momento de oração.
Que sua oração era nada mais que um sentido da presencá
de Deus, sua alma sendo naquela hora indiferente a tudo além do amor
divino; e que quando o momento da oração terminava ele não
via nenhuma diferença, porque ele continuava com Deus, louvando e bendizendo-O
com toda sua força, de modo que passava sua vida em constante alegria;
ainda que esperando que Deus lhe desse algo para sofrer quando ele ficasse
mais forte.
Que devemos, de uma vez por todas, colocar fervorosamente toda nossa confiança
em Deus e nos abandonarmos totalmente nEle, seguros de que Ele não
nos decepcionará.
Que não devemos nos cansar de fazer pequenas coisas por amor a Deus,
que não considera a grandeza do trabalho mas o amor com que ele é
realizado. Que não devemos nos maravilhar se, no início, frequentemente
falhamos em nossas empreitadas, mas que ao final teremos ganho um hábito,
que irá naturalmente produzir seus frutos em nós, sem nosso
cuidado, e para nossa grande alegria.
Que toda a substância da religião é a fé, esperança
e caridade, pela prática das quais nos tornamos unidos à vontade
de Deus; que tudo o mais é indiferente e deve ser usado como meio de
chegarmos ao nosso fim, e sermos engolidos então, pela fé e
caridade.
Que todas as coisas são possíveis àquele que crê;
que elas são menos difíceis àquele que espera; que elas
são mais fáceis àquele que ama e ainda mais fácil
àquele que persevera na prática dessas três virtudes.
Que o fim que devemos propor a nós mesmo é tornarmo-nos nesta
vida, os mais perfeitos adoradores de Deus que possamos ser, como desejamos
ser por toda a eternidade.
Que quando entramos na vida espiritual, devemos considerar e examinar até
o fundo o que nós somos. E então devemos nos considerar dignos
de todo desprezo e nem merecendo nem mesmo o nome de Cristãos; sujeitos
a todo tipo de miséria e incontáveis acidentes, que nos perturbam
e nos causam vicissitudes perenes em nossa saúde, em nosso humor, em
nossas disposições internas e externas; enfim, pessoas a quem
Deus humilharia com muitas dores e trabalhos, tanto interior quanto exteriormente.
Depois disso não devemos nos maravilhar que trabalhos, tentações,
oposições e contradições nos aconteçam
da parte dos homens. Devemos, ao contrário, nos submeter a eles, e
suportá-los tanto quanto Deus deseje, como coisas altamente vantajosas
para nós.
Que quanto a maior perfeição que uma alma deseje maior deve
ser a sua dependência à divina graça.
Sendo questinado por um de sua Ordem, (a quem ele era obrigado a se abrir)
por quais meios ele atingiu um senso tão habitual de Deus, ele lhe
respondeu que, desde a sua entrada no mosteiro ele considerou Deus como o
fim de todos seus pensamentos e desejos, como a marca para a qual deveriam
pender, e na qual eles deveriam terminar.
Que no início de seu noviciado ele despendia as horas determinadas
para a oração individual em pensar em Deus, como que para convencer
sua mente e para imprimir profundamente em seu coração, a divina
existência, através de sentimento devotos e submissão
à luz da fé, e não por estudos da razão ou meditações
elaboradas. Que por este breve e seguro método ele se exercitou no
conhecimento e amor de Deus, resolvendo usar seu mais extremo esforço
para viver num continuado sentido de Sua presença, e, se possível,
nunca mais esquecer-se dEle.
Que quando ele tinha enchido sua mente na oração, com grandes
sentimentos do Ser infinito, ele ia para seu trabalho na cozinha (pois ele
era cozinheiro da comunidade). Que tendo considerado com cuidado as coisas
que seu ofício exigia, ele passava todos os intervalos de sua jornada,
tanto antes quanto depois do seu trabalho, em oração.
Que quando ele começou seu trabalho, ele disse a Deus com uma confiança
filial nEle: Oh meu Senhor, que estás comigo, eu devo agora,
em obedicência aos Vossos mandamentos, aplicar minha mente nessas coisas
exteriores; eu Vos suplico conceder-me a graça de continuar em Vossa
presença; e para este fim dai-me Vossa assistência, receba todos
os meus trabalhos e todos os meus afetos.
Que enquanto ele procedia com seu trabalho ele continuava esta conversa familiar
com seu Criador, implorando Sua graça, e oferecendo-Lhe todas as suas
ações.
Quando ele terminava ele se examinava para ver como havia cumprido seu dever;
se ele achava que fora bem, ele dava graças a Deus; pelo contrário,
ele pedia perdão e sem se desencorajar, ele fixava sua mente novamente
e continuava seu exercício da presença de Deus como
se nunca tivesse se desviado dela. Então, dizia ele, levantando-me
depois de minhas quedas, e pelos frequentes atos de fé e amor, cheguei
a um estado onde seria difícil para mim não pensar em Deus,
como era no começo, para acostumar-me a isto.
Como o Irmão Laurence encontrou tal vantagem em caminhar na presença
de Deus, era natural para ele recomendar isso com insistência aos outros;
mas seu exemplo foi mais forte exemplo do que quaisquer argumentos que ele
pudesse propor. Seu próprio semblante era edificante, tão doce
e calma devoção nele transparecia que não podia deixar
de afetar aqueles que o viam.
Como foi observado que na maior agitação nos trabalhos da cozinha
ele ainda preservava seu recolhimento e concentração celestial.
Ele nunca estava apressado ou flanando, mas fazia cada coisa a seu tempo,
com uma compostura constante e tranquilidade de espírito. O tempo
do trabalho, ele dizia, não me é diferente do tempo da
oração; e tanto no barulho e estardalhaço da minha cozinha,
enquanto várias pessoas estão gritando ao mesmo tempo por coisas
diferentes, Eu possuo a Deus em grande tranquilidade como se estivesse de
joelhos diante do Santíssimo Sacramento.
Tradução livre por Jandira Soares Pimentel, de texto encontrado
na internet. Quando eu tiver um tempo vou traduzir as "Cartas" do
Irmão Lawrence, aguardem.
Encontrei recentemente o livro em português: "Chama-se: "A Experiência Mística de Lourenço da Ressurreição", Ed. Lótus do Saber, traduzido e organizado por Alexandre Sérgio da Rocha.
e-mail: <lotusdosaber@uol.com.br>