Grupos de Oração Centrante

Como iniciar um (Por Sérgio de Azevedo Morais)

Apoio na caminhada

Quem aprende a Oração Centrante logo percebe que, embora cada ocasião de praticá-la tenha seu valor, as possibilidades desse método só se completam plenamente na fidelidade a uma rotina de prática individual e diária, pois ele se destina, essencialmente, a servir de apoio à nossa caminhada espiritual, que dura toda a vida. Para encontrar encorajamento e suporte nessa caminhada, muitas pessoas sentem o desejo de participar, adicionalmente, de pequenos grupos de reunião semanal, e por este motivo existem, em todo o mundo, milhares de grupos de Oração Centrante formados. "Saber que nosso grupo se reúne toda semana é um enorme encorajamento para continuar, ou para retornar à prática diária se nos tivermos afastado dela em virtude de doença, negócios, problemas de família ou deveres prementes(1)". "A verdade é que quando um grupo medita em conjunto, mesmo que sejam só duas pessoas, a responsabilidade de um para com o outro estimula a fidelidade. Ainda mais, cria-se um clima de oração, uma corrente de graça oculta, algumas vezes quase palpável, que fortalece a meditação de cada um e cria uma profunda ligação dentro da comunidade cristã (2)".

Dando continuidade à Tradição

Na Igreja primitiva os cristãos formavam pequenas células domésticas para orar e partir o pão, não apenas em virtude das perseguições mas em resposta à promessa de Jesus: "pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles." (Mt 18,20). E quando, no século IV, os primeiros monges e anacoretas se instalaram no deserto do Egito para dedicarem totalmente suas vidas à oração e à ascese, mesmo os que viviam isolados costumavam reunir-se periodicamente com os confrades mais próximos para orar em conjunto.

Na esteira dessa tradição, são atualmente numerosas as iniciativas de formação de grupos de oração entre os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, evangélicos e ortodoxos. Os grupos de Oração Centrante enquadram-se nessa dinâmica de valorização da oração em pequenas comunidades mas respondem, mais especificamente, ao apelo do Papa Paulo VI por um revigoramento da vida contemplativa no seio da Igreja. Nesse pronunciamento, testemunhado pelo padre Basil Pennington, OCSO, o Santo Padre chegou a afirmar que a obra renovadora do Concílio Vaticano II não estaria completa enquanto não estivesse formado em cada paróquia do mundo, um grupo de oração contemplativa.

>Onde se Reunir

Os grupos já constituídos em vários países reúnem-se em paróquias, capelas, casas religiosas, residências, escritórios, fábricas, hospitais, escolas e até em prisões. Os participantes de cada grupo são, portanto, aglutinados seja pela proximidade geográfica, seja por pertencerem a outros grupos de natureza profissional, social ou religiosa.
A iniciativa de formar um novo grupo está quase sempre associada à identificação prévia de um local de reunião. Os novos grupos são formados, em geral, em seguida a retiros ou palestras com boa afluência de público, ou quando os grupos existentes constatam a impossibilidade de acomodar novos participantes, em virtude da falta de espaço no local. Mais comumente, os novos participantes são acomodados em grupos existentes, e aí instruídos.

Número de Participantes

O número médio de participantes dos Grupos de Oração Centrante situa-se entre sete e oito, não devendo ultrapassar o número de uns 14 participantes. Mas este dado não é muito significativo. Os grupos devem ser entendidos como ramos da videira que é o Cristo, por isto aqueles com apenas duas ou três pessoas não são menos importantes que os que chegam a vinte. Grupos crescem, diminuem ou até desaparecem por motivos diversos, às vezes jamais identificados, segundo o fluxo normal da vida.

Formato das Reuniões:

As reuniões dos grupos devem se limitar a cerca de uma hora e meia, e durante esse tempo podem ser previstas as seguintes etapas:

1. Preparação (10 a 15 minutos): leitura da liturgia do dia - ou de textos espirituais curtos - e canto. Caso haja iniciantes, apresentar-lhes o "roteiro básico para a prática".

2. Prática da Oração Centrante: 20 a 30 minutos corridos, ou dois períodos de 20 minutos, intercalados por cerca de 5 a 10 minutos de "caminhada meditativa", em silêncio, em círculo dentro da sala, ou talvez numa área externa próxima, caso haja.

3. Instrução e partilha (cerca de 30 minutos): leitura de livros ou artigos dos mestres a Oração Centrante ou de outras formas de oração contemplativa, com interrupção livre, para comentário, por quem quiser, (dentro do tema, para que não se perca o objetivo da instrução). A aplicação do texto à vida de cada um deve, idealmente, ser enfocada nos comentários. Evitar "contar casos" que esgotam o tempo rapidamente, ao invés de propiciar o aprofundamento do grupo - o coordenador fique atento aos desvios que comumente ocorrem e acabam deixando o grupo perder seu objetivo principal.

4. Confraternização (10 a 15 minutos): um simples cafezinho e água já bastam, mas em muitos grupos alguns participantes tomam, espontaneamente, a iniciativa de levar biscoitos e outros itens para consumo nessa etapa.

OBS: O grupo de Belo Horizonte suprimiu o cafezinho, já que as pessoas custam a retornar e o tempo é muito curto. Deixamos essa confraternização para os nossos mini-retiros bimensais.

Prática da Lectio Divina

Como monges trapistas, os mestres históricos da Oração Centrante unanimemente reconhecem os grandes benefícios advindos da prática frequente da Lectio Divina (leitura contemplativa das Escrituras, ou leitura orante da Bíblia), para sua caminhada espiritual. Por este motivo eles incentivam os amigos da Oração Centrante a conhecerem e introduzirem na rotina de suas vidas essa antiga prática contemplativa, cujos fundamentos e etapas (leitura, meditação, oração e contemplação) são apresentados na referência.

Irmanados a esses mestres, recomendamos aos grupos de Oração Centrante que incluam em sua programação, pelo menos uma vez por mês, a prática da Lectio Divina. Isto pode ser feito na etapa (3) do quadro acima, em substituição à instrução e partilha, ou ao cafezinho.

O esquema do grupo de Belo Horizonte que funciona há quase três anos, é o seguinte:

. acolhida silenciosa, com música suave ao fundo;
. um período de 30 minutos de Oração Centrante;
. 10 minutos de Lectio Divina, seguidos ou não de partilha.
. leitura (estudo) de um texto da literatura citada acima.

Aqui, quando temos pessoas novas no grupo, alguém que já pratica há mais tempo a instrui separadamente, dando-lhe a informação necessária para que possa meditar com o grupo. Isso evita que todo o grupo tenha que ficar ouvindo a repetição dos passos iniciais para a prática da OC.

O Papel do Coordenador

Embora os grupos fundados por determinadas pessoas sejam, em geral, coordenados inicialmente por elas, é natural que os coordenadores dos grupos já estabelecidos sejam escolhidos, consensualmente sempre que possível, pelo conjunto dos participantes.

O coordenador não é, necessariamente, alguém com conhecimentos mais aprofundados que os dos demais participantes a respeito da Oração Centrante ou da Lectio Divina, embora seja desejável que ele tenha tomado parte em retiro, oficina de instrução ou processo de formação de grupos em que os princípios desses métodos tenham sido bem explicados.

O papel do coordenador não é a de um professor ou explicador do método, embora ele e outros possam fazer isto; sua função é organizar e conduzir as reuniões e selecionar, ouvindo sugestões dos demais, a matéria a ser lida nas mesmas. Outra função importante é a representação externa do grupo junto à paróquia ou outro local de reunião, assim como junto aos demais grupos e à coordenação regional, quando esta existir.

Roteiro Básico para a Prática:(3)

1. Escolha uma "Palavra Sagrada" (ou "Palavra de Amor") como SÍMBOLO de sua INTENÇÃO de dar CONSENTIMENTO à Presença e à Ação interior de Deus em sua vida.

2. Sentado confortavelmente, com os olhos fechados, aquiete-se brevemente e volte sua atenção para a Presença do Senhor em você. Com o coração, diga "SIM" a esta PRESENÇA e abandone-se a ela.

3. Suavemente, comece a repetir, interiormente, a palavra de amor, como símbolo de seu consentimento à Presença e à Ação de Deus em você. A repetição da palavra pode cessar, voluntária ou involuntariamente, quando você estiver interiormente pacificado e em silêncio.

4. Quando tomar consciência de pensamentos, sensações, sentimentos, volte muito suavemente à palavra de amor, sem se recriminar, etc...

5. Ao final do período de oração, permaneça em silêncio, com os olhos fechados, por uns dois minutos. Nos grupos, o coordendor pode, durante esse tempo final, recitar o "Pai Nosso", em voz alta, muito vagarosamente, e os outros o acompanham em silêncio (para evitar que cada um vá numa velocidade).

Ajudando a Formar Novos Grupos

Caso deseje formar ou ajudar a formar novo(s) grupo(s) de Oração Centrante, solicite apoio pelos telefones e endereço indicados abaixo.

Uma das formas mais eficazes de formar grupos é a organização, em locais selecionados, de oficinas de instrução de fim-de-semana ou de séries de seis reuniões de introdução à Oração Centrante, conduzidas por praticantes experientes. Cada reunião normalmente compreende uma breve palestra, um período de prática e um tempo para partilha e perguntas. Uma providência necessária para a realização desses eventos é a reserva de um local adequado (por exemplo, em uma paróquia), e você pode ajudar-nos fazendo esse contato.

Contatos para solicitar/oferecer apoio:

Rio de Janeiro, RJ: Sérgio de A. Morais - "Círculo Gregório de Nissa" - Caixa Postal 33266, CEP 22442-970 - Tel (21) 2246-6242. E-mail: <med.rio@terra.com.br>

Belo Horizonte, MG: Jandira Pimentel - Caixa Postal 3071 - Savassi - CEP 30140-970 - Belo Horizonte - e-mail: <oracaocentrante@yahoo.com.br> Tel: (31) 3241-8129.

São Paulo: Envie e-mail para: Márcio.

O que é a Oração Centrante?

1. É, ao mesmo tempo, um relacionamento com Deus e uma disciplina para aprofundar esse relacionamento.

2. É um exercício de fé, esperança e amor.

3. É um movimento para além da conversação com Cristo, em direção à comunhão.

4. É uma prática que nos habitua à linguagem de Deus, que é o Silêncio.

O Papel dos Grupos

Os grupos de Oração Centrante são pequenas comunidades autônomas de praticantes dessa forma de oração/meditação, cujos membros assumem entre si o compromisso de se reunir uma vez por semana, em determinados locais, para praticá-la em conjunto e partilhar entre si ensinamentos, experiência e encorajamento. A comparação com as igrejas domésticas dos primórdios do Cristianismo é intuitiva. Os seguintes papéis desempenhados pelos grupos de Oração Centrante são particularmente relevantes nos dias de hoje:

1. Os grupos são a presença mais visível de uma comunidade contemplativa mais ampla cujo patrimônio específico é o ensinamento dos mestres da oração centrante, e seus participantes têm a consciência de integrar a grande corrente que, na história da Igreja, constituiu e perpetua a tradição contemplativa cristã.

2. A oração praticada no seio dos grupos, unindo-se à de todo o povo de Deus, contribui para "unir no Corpo Místico de Cristo toda a família humana"(4), tornando cada um mais sensível à sorte dos irmãos necessitados.

3. Abertos a cristãos de todas as denominações e correntes, os grupos são escolas e exemplos vivos de convivência fratena na diversidade e de cultivo da paz.

Fontes e Referências:

1. "Open Mind, Open Heart - The Contemplative Dimension of the Gospel", Thomas Keating, OCSO (Element, 1991)

2. "Oração Centrante", M. Basil Pennington, OCSO (Ed. Palas Atena, 2002)

3. "The Method of Centering Prayer", Thomas Keating, OCSO (folheto da "Contemplative Outreach")

4. "Intimidade com Deus", Thomas Keating, OCSO (Paulus Editora, 1999).

5. "Lectio Divina" - O que é, como se Faz, Thelma Hall, RC (Ed. Loyola, 2001)

6. "A Nuvem do Não-Saber" - Paulus